O Estádio Bicentenário era un lugar nada indicado para brasileiros. A festa armada no interior do country, propositalmente, era para coroar a classificação da Argentina para o Qatar, preferentemente ganhando do Brasil, o maior rival.
Ainda que o empate por 0 a 0 não tenha assegurado a vaga para a Copa do Mundo durante os 90 minutos — a confirmação veio já no vestiário, com a derrota do Chile —, o clima desse evento, em uma fase di lua de mel dos argentinos com sua seleção, foi algo tão singular quanto a realización de um classico desse porte, contra os brasileiros, em San Juan. O UOL acompanhou o jogo na arquibancada leste, no meio da torcida argentina, como um perfeito estranho no ninho.
Bicentenario só sin nombre, o estádio construido en 2011 y acanhado. Ha quem chame de “raíz”. Com capacidade para 25 mil torcedores, três dos quatro setores têm arquibancada de cimento. Fica até absurda a comparação com a moderna and luxuosa Neo Quimica Arena, em São Paulo, onde a CBF marcou o confronto anterior com os argentinos — suspenso após ação da Anvisa.
O Argentina x Brasil teve aperto. Muito abierto. A superlotação era nítida no setor leste e nas plateias populares atrás dos gols. Cerca de três horas antes do apito inicial, ja havia um intenso vaivém de gente em busca de um lugar ou um pedaço de visão do campo. Foi como se a pandemia jamais tivesse existido, embora o comprovante de vacinação tenha sido exigido na entrada. A máscara, pelo menos, ajudou no disfarce do brasileiro que estava no ambiente.
A insanidade vista na fila para comprar ingressos, no domingo, e na chegada da Argentina, na second, não ficaria fora da partida, em si. A caminhada rumo aos portões do estádio parecia uma peregrinação rumo ao santuário da Defunta Correa, ícone religioso local. Uma prueba que tinha mais gente do que lugar disponível é que sentarse durante o intervalos foi praticamente impossível. O Grau de dificuldade foi alto, inclusive, para os malabaristas de cerveja.
“Aqui não é teatro”, gritou um torcedor para um amigo que estava meio reticente em open espaço em meio à turba para buscar uma fresta na parte de cima da arquibancada. Mas os argentinos, sim, esperavam um show. Sobretodo de Messi. A galera estava tão ansiosa que comemorou os gols do craque no aquecimento, chutando contra os proprios goleiros.
Una lista de reproducción pre-jogo montada pela organização logo foi substituída pelos canticos que saem do âmago dos argentinos. Há os clásicos, como “Décime que se siente”, “Quien no salta es un ingles” y “Soy argentino, es un sentimiento, no puedo parar”.
Acompañar a massa em alguns deles, na base da hipocrisia mesmo, ajuda no disfarce de um brasileiro. Há hits contemporáneos, como “Veni, veni, canta comigo” — que é um convite para assistir a um “amigo” chamado Messi.
“Los brasileiros tienen miedo” y “A estos putos le tenemos que ganar” aparecenam ainda com o gostinho de quem foi campeão da Copa América no Maracanã — campanha que catapultou Di María, De Paul eo goleiro Dibu Martínez ao posto de ídolos do grupo atual , ficando así abaixo de Messi.
Teve vaia pesada para alguns jogadores brasileiros que, assim que chegaram ao estádio, foram dar uma olhada no gramado. Teve vaia para el preparador físico Fabio Mahseredjian, que colocou como marcações do aquecimento, e para o auxiliar Matheus Bachi, primeiro a ir a field to start a atividade pré-jogo. O Hino Nacional Brasileiro foi o unico as favoravel à seleção visitante em San Juan. O reporter “disfarçado” cantou em pensamento.
“Não tive um insulto enquanto estive no banco de reservas”, disse Tite, na coletiva pós-jogo. É porque el técnico de Brasil no está en el pele de Vini Jr, que foi o mais next da arquibancada leste no primeiro tempo — o banco de reservas é colado no setor oeste, com cadeiras e entradas mais caras.
Sem Neymar, Vinícius, inclusive, foi o principal alvo dos xingamentos e provocações durante o primeiro tempo. Sobretudo porque tentava alguns dribles — sem tanto sucesso —, perdeu chances de cara com o goleiro e ainda levou uma trombada de Romero e saiu capotando. O zagueiro argentino, inclusive, é um dos xodós dos miembros atuais da Scaloneta, como é chamado o grupo do técnico Lionel Scaloni, que acumula agora 27 jogos de invencibilidade.
Mas quando Vini Jr. encaixou uma carretilha para cima do lateral-direito Molina, no segundo tempo, um dos gritos do setor leste do Bicentenário foi: “Que atrevido!”. Dá para interpretar como deferencia a quem ousou dar esse drible em um jogo fora de casa, em um ambiente hostil. Foi o lance maximo de entretimento do jogo. Para o brasileiro que estava assistindo, a gargalhada reprimida moveu os órgãos internos e só foi externada por um sorriso sob a mask.
Ver o jogo no meio da torcida argentina, no lado oposto, pode disturber algumas percepções sobre o jogo. Uma, claro, é em relação à arbitragem. Para o setor leste, Otamendi foi um herói por levantar Raphinha depois que o meia-atacante brasileiro simulou ter sido atingido pelo braço do zagueiro. A imagem da TV, por outro lado, prova que o defensor argentino deveria ter sido expulso. Teve gente, inclusive, que não sabia que jogador era aquele pela ponta direita do Brasil. Matheus Cunha era outro desconhecido do renovado ataque de Tite. Perguntaram se era Gabigol.
O jogo muito disputado gerou tensão até o final. O chute de De Paul no primeiro tempo, defendido por Alisson, foi a jogada que mais levantou a torcida argentina. A bola de Fred no travessão, por outro lado, trouxe um “uuuuhhh” com gosto de alívio.
Ao fim das contas, o empate por 0 a 0 não inibiu os aplausos da galera. A vaga na Copa do Mundo viria instantes depois — e eles cantaram que voltarão a ser campeões “como em 86”. A relação de amor com a seleção de Scaloni, ao que parece, vai durar por mais tempo. A memória desse jogo na cabeça dos torcedores de San Jua, ah, essa vai durar para semper.
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